Conto-crônica: AO DOBRAR Á ESQUINA: Wagner Martins

 

AO DOBRAR Á ESQUINA:

 

            Sessões-torturas: O som do caminhão dele chegando; ela pula o muro para dentro de casa, talvez, até se esqueceu de usar o portão, já que faz tempo que é presa sob ameaças; lá, a cozinheira de mão-cheia vivi o terror: as panelas cheirando comidas deliciosas, agora malditas, lançadas para o ar, para a rua, quintal, escorrem, se misturam caldos, lágrimas amargas, salivas, às vezes sangue ou esperma no chão... Ferindo seu orgulho, sua autoestima, todo seu íntimo; depois de apanhar de cinto, sofrer com objetos lançados nela, tem uma arma apontada para cabeça!... A salvação quando alcançada é no quintal: um cercado malfeito que com a força vinda da angustiante lembrança da última vez que desmaiou tendo a cabeça jogada contra parede, foge da possibilidade de reviver isso, para o amparo dos vizinhos.

            Ela: Um passarinho capturado no alçapão dos encantos no tempo de namoro; Agora o seu encantador dia após dia fica especialista em torturar a que é bastante forte para não revidar igualmente o maltrato... para os de braços cruzados e línguas ferinas “essa é mais uma mulher que vive para apanhar e vai morrer apanhando, simplesmente.”

            A transformação ou a deformação de caráter me faz perguntar: o que motiva?

Faz-me ter um certo temor em frente ao espelho: Quem será você no futuro!?

Sua alma oprimida já se conformou com o terrível fim previsto por tantos? Já é enfadada de tanto percorrer inúmeras vezes o labirinto sombrio dos caminhos de ameaças mortais, solidão, desprezo, enganosas culpas, de vergonha, medo, desesperança?...

Talvez... porque, ela diz:

— Deixa assim, deixa assim! Depois de eu dar à luz. Depois disso, vou tomar um rumo diferente!

“Mas por enquanto segue sendo o saco de pancada.”

            Triste, triste e triste essa situação que mulheres como essa, sobrevivem, mais um dia, mais umas horas?! Nos cativeiros domésticos: provavelmente estão até no nosso lado.

            O que aconteceu no fim dessa história? Sim, pois, já tem fim; o que esse escritor está fazendo é apenas escrevê-la e muito mal, com muitos erros de gramática, metendo a colher nas “brigas de marido e mulher”, acrescentando apenas reflexões que ele acredita que é isso que faz um texto ser bom.

            Houve morte? Já tinha havido, mas de quem? Do relacionamento ideal de um casal. Depois de dar à luz veio à luz do fim do túnel — Força, esperança: a última sessão-tortura levou-a sair dessa condição, feito uma presa escapando das garras do predador, para guerrear na vida pela sua criança; virou a ovelha do Bom Pastor, depois essa ainda ferida foi bem tratada por um pastor com uma atenção redobrada que com ela casou.

            O torturador virou motivo de piada, de risos e exemplo de quem despreza uma mulher que prova o seu valioso valor. O dinheiro dele? O álcool, a bebida consumiu, uma tremedeira o pegou e mais nunca o deixou — anda como cego em meio tiroteio, vai agarrando nas paredes, já caiu nos vales, nas lamas... se assim seguir só parará caído numa cova.

            E os herdeiros dessa construção de lembranças sentimentais em ruína?!

- Wagner Martins

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Um comentário:

  1. Um conto, que conta a triste e infeliz realidade de muitos casais, onde tanto a mulher quanto o homem se tornam vítimas de si mesmos, de suas escolhas... Um convite a reflexão.

    ResponderExcluir