DILEMA NO CONSULTÓRIO MÉDICO
— Próximo.
— Boas tardes, doutor!
— Boa!
“De que forma vou deixar esse homem encontrar a morte, com o coração cheio de angústia ou de esperança? Pois, pelos seus exames, vi, realmente, esse pobre inventou de ter uma doença que só os ricos podem bancar! Se souber que tem uma doença terminal e que existe um tratamento ou medicação, mas só que isso por um mês lhe custará a soma dos seus salários de um ano: Coitado! O desgraçado vai recorrer a assistência, enfrentar toda aquele massacre para alcançar, se ainda der tempo, o que tanto precisa! De outra maneira, vai vender tudo o que tem e o que não tem para recuperar a saúde e quando morrer, deixar os guris e a mulher passando fome, sem herança, mendigando nas sinaleiras, na porta da minha casa! (Saúde não se recupera, ou tem, ou não tem, e se tem, cultiva! Como esse vai cuidar da sua sem educação alimentar, mesmo se for assistido por um nutricionista, como financiará o que realmente precisa comer?)
Se eu receitar a ele um remédio custando qualquer trocado, para aliviar a dor, e mantê-lo cheio de esperança ao dormir e ao acordar? (A maioria das pessoas prefere o alívio das dores nem que para isso sinta-as mais intensamente depois; depois é depois. É por isso que os ramos das drogarias não param de crescer, sejam elas legais, ou ilegais. Todos eles oferecem-nas a nós com a promessa que cessaram todas as nossas dores num passe de mágica! Cadê os bons, e velhos remédios caseiros do tempo dos nossos pais e avós? Cadê as evas medicinais que a mamãe natureza nos dá abundante e gratuitamente? Foram esquecidas, porquê será? E são tantos os que compram e assim se viciam; vejo nisso o resultado de passarem tanto tempo consumindo fantasias, agora acreditam que podem virar super-heróis. Geração louca, covada e utópica, quer se livrar a qualquer preço de sentir por cinco minutos sequer aquilo que muitas das vezes nos faz bem, que faz parte no nosso processo de amadurecimento, que nos faz lembrar que ainda somos humanos: a dor.)
Pensando bem, nessa situação para esse indivíduo a ignorância é uma benção.”
Depois dessa reflexão momentânea sobre como será o fim de mais um zé-ninguém sobre a face da Terra, decretou:
— Seu João, aqui está a receita, passei a medicação…
— É caro doutor?
— Não. Apenas R$ 10. Em qualquer farmácia compra.
— Obrigado!
— Pode entrar o próximo.
- Wagner Martins
4 de junho/2022

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