SURPRESA!!! Wagner Martins (Conto)


SURPRESA!!!

 

Não dar para ser agiota dos sentimentos… quero dizer: se amou, amou. A recompensa é voluntária, não é!?

Isso não se faz, isso não se faz… logo comigo! Vou matá-la. Já decidir, eu próprio vou matá-la!

Ultimamente ela age toda estranha, nunca falou tanto com as irmãs desse jeito: agora, basta me aproximar que esconde o celular e usa a frase “SÃO MINHAS IRMÃS!” como muralha em seu redor! Nunca vi sair tanto para resolver tantas coisas sem explicações convincentes como recentemente; nosso cartão de crédito só fica em suas mãos… não sou vira-lata não, mas por esses tempos minhas orelhas estão ficando mais em pé do que nunca!

O que fiz para merecer isso dela! Mas isso o quê? Às vezes, sinto sendo traído por mim mesmo, seduzido a acreditar o que parece ser; ou outras vezes, por todo o mistério que de repente minha esposa o vestiu feito um capuz que a camufla tão bem que nem eu mais lhe reconheço direito!

Por que se esforça tanto para me fazer crer que entre nós dois está mais que perfeitamente normal que não está. Não está. Não está. Porém, sei que ela não é capaz de fazer tal coisa! Jamais. Ou é?!

Um dia desses passei a mão em cima do guarda-roupa — encontrei um vestido, deve ser caríssimo, ainda dentro de uma bolsa chique. O que vou pensar desse fato? Fica mais evidente se encaixo uma peça na outra desse quebra-cabeça de quem realmente essa mulher é. Contudo, aprendi que para pescar exige cautela, nos exige dar linha e só observar, então, sendo assim, paciência e muita desconfiança… será que estou sendo o que não vale o que o gato enterra da vez?!

— Amor! Minha irmã ligou, pediu para eu ficar com Antônio, enquanto ela vai ao banco!

— Está certo. Te levo.

— Não amor; você ainda vai tomar banho e ela já está me esperando… chegou o uber. Fui, te amo!

Reconheci: é aquela bolsa chique do vestido que ela levou!… Quem me garante que seja mesmo o uber?!

Hoje vai ter mais um corpo no IML, e mais um assassino atrás das grades. Lhe seguir. Foi mesmo na direção da casa da tal irmã; entrou; esperei uns trinta minutos, quando o remorso do motivo da minha vigilância ali já estava me tomando — a mesma saiu, mas não como entrou: toda produzida, aposto, inaugurando o maldito vestido!… É hoje que vou transformar essa roupa em peneira!!!

Hoje vai ter mais um corpo no IML, e mais um assassino atrás das grades.

Sair do carro e segui-a, suando frio, sentindo lágrimas rasgando a minha face, queimando os meus olhos, meu corpo pesar toneladas em meus pés, na cabeça soava como tivesse mil vozes torcendo: “vingança!!! Vingança!!!” ela entrou no galpão, e fechou. Encostei meu ouvido no portão de ferro; recebi uma mensagem na rede social dela:

 

— Amor, traz a bola para o menino brincar aqui no galpão!

Sinceramente não entendi nada. Regressei e trouxe, quando entrei, já com o coração assassino, surgiu no escuro um coral desafinado:

 

— Parabéns pra você nessa data querida…

 

- Wagner Martins

 

sexta-feira, 2 de outubro de 2020


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