A princesa de rodas, e seu príncipe.
(10 anos a.C.) Em um reino onde a ignorância mantinha cativa
a mente daquele povo, onde a religião dominava
muitos corações, e não sobrava espaço para o amor ao semelhante, onde as
pessoas levavam tudo para o lado religioso; e essa maneira de pensar condenava
as pessoas com quaisquer tipos de deficiências, julgando-as como
seres castigados pelo CRIADOR, e colocavam as mesmas para viver presas em suas
residências, em lugares isolados da sociedade. Infelizmente era assim que aquela
nação agia naquele momento.
E foi em
meio dessa “confusão santa,” assim eu renomeio aquela ótica primitiva. Uma
mulher de família humilde concebeu a primeira filha. O seu marido que almejava
um filho para ter a alegria de ensinar a ele a sua profissão, por isso não se
alegrou tanto.
A criança foi crescendo, os seus pais desconfiavam, porém
ignoravam o delongo desenvolvimento da sua filha, os anos foram se passando,
logo foram comprovando que aquilo que estava só em pensamentos, para todos se
revelou uma indesejada verdade: seus pais sofreram frustrações intensas, quando
a mãe colocava sua primogênita no chão e o pai em sua frente a chamava pelo seu
nome, e ao invés de dar seus primeiros passos mesmo sem a devida firmeza, ela
perdia o equilíbrio e caía ao chão... E eles tentavam de novo, e infelizmente,
era a mesma decepção... Tentaram ensinar a ela a falar pelo menos papa...
Mamã... Mas aquilo que se esperava, não era atendido!... Só aumentava aquele
sentimento de que tudo estava contrário, que estava tudo dando errado!... Mas a
vida haveria de fazer o que ela faz de melhor com todos nós, mais tarde iria
surpreendê-los novamente.
A maioria
dos habitantes daquela região soube da notícia, então aquela família virou alvo
de injúrias, zombarias e fofocas: pois diziam que eles eram amaldiçoados por
ter uma filha com deficiência.
Numa noite esse bom homem bastante irritado e fadigado com
toda essa perseguição repousou em seu leito, ali foi tomado por um sono
profundo, e foi nessa ocasião que teve um sonho revelador. E nele se encontrou
num lugar com um bando de crianças juntas, de várias etnias, e classes, bebês
amputados vitimados das guerras, outros com suas deficiências, e todos
brincavam numa real harmonia, sem preconceitos, sem racismo... Sem diferenças
entre eles...
Depois disso, ele acordou mais fascinado pela vida, já que
avistou ali o quanto ela é prazerosa entendendo que quando não botamos as
barreiras do preconceito, do racismo, dá pra se viver cada vez melhor,
desfrutando desse prazer imensurável.
Por causa disso, nasceu o motivo que mudou o primitivo quadro
daquela família, que antes vivia se escondendo da alegria; agora eles podiam se
aventurar por ela; que antes era pretexto de se envergonhar; agora é pretexto
de se emocionar apreciando o ingênuo e puro sorriso da filha, que apesar de
tudo parecer estar contra ela, sempre estava com sua pureza sorrindo
alegremente.
Os trios de
aventureiros se aventuravam nas madrugadas, nos verdes montes distantes
daqueles, que não sabe que o bom da vida é viver sem normas que vão contra a
nossa felicidade, aquela moça sentia o verdadeiro carinho dos pais, ao
divertir-se contando história, aquecendo-se ao redor da fogueira, e respirando
o ar puro.
Nesses rituais que o coração pulsava de plena felicidade, não
sabiam que também tinha mais alguém participando mesmo de longe, era o príncipe
daquele reino acompanhando deslumbrado todas as noites pela janela do seu
quarto.
Esse príncipe estava tão cativo com o ingênuo sorriso daquela
donzela transmitindo o que sentia aos pais, que se apaixonou, pois aquele
jeitinho tão meigo o encantou, e disse determinado pra si mesmo:
- É essa... Vou
pedir a sua mão, pra ser minha princesa... É quero que seja a mãe dos meus
filhos.
Logo, seguiu o que seu coração pedia,
independente que o povo de seu pai e o rei aceitasse, ou não...
Seu pai na tentativa de cessar a solidão do príncipe deu um
baile em seu castelo e convocou as donzelas, porém nenhuma que estava presente
lhe agradava, por isso que foi em busca daquela que no seu coração já reinava,
e regressou conduzindo na cadeira de rodas uma belíssima donzela; logo todos se
abismaram, mais contemplando o quanto era forte aquele sentimento que sentiam
um pelo outro, quebrando a barreira do preconceito, puseram-se a bailar
emocionados, pois estava diante dos seus olhos à autêntica prova de que a
deficiência não priva ninguém de ser feliz.
Anos mais tarde ela teve filhos e ficou conhecida em todos os
reinos da Terra, como: A princesa de rodas, devido a sua luta, e seu lindo e
triunfante testemunho, pois a pior deficiência é aquela que não permite que
alguém possa aproveitar a vida dentro da sua limitação, é aquela que não
permite que alguém sinta o quanto a vida é bela, e não no físico.
by Wagner Martins dos Santos
Atualização ou publicação dia: 24 de julho de 2014
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