Conto A princesa de rodas, e seu príncipe. autor Wagner Martins dos Santos

A princesa de rodas, e seu príncipe.

(10 anos a.C.) Em um reino onde a ignorância mantinha cativa a mente daquele povo, onde a religião dominava  muitos corações, e não sobrava espaço para o amor ao semelhante, onde as pessoas levavam tudo para o lado religioso; e essa maneira de pensar condenava as pessoas com quaisquer tipos de deficiências, julgando-as como seres castigados pelo CRIADOR, e colocavam as mesmas para viver presas em suas residências, em lugares isolados da sociedade. Infelizmente era assim que aquela nação agia naquele momento.

            E foi em meio dessa “confusão santa,” assim eu renomeio aquela ótica primitiva. Uma mulher de família humilde concebeu a primeira filha. O seu marido que almejava um filho para ter a alegria de ensinar a ele a sua profissão, por isso não se alegrou tanto.
A criança foi crescendo, os seus pais desconfiavam, porém ignoravam o delongo desenvolvimento da sua filha, os anos foram se passando, logo foram comprovando que aquilo que estava só em pensamentos, para todos se revelou uma indesejada verdade: seus pais sofreram frustrações intensas, quando a mãe colocava sua primogênita no chão e o pai em sua frente a chamava pelo seu nome, e ao invés de dar seus primeiros passos mesmo sem a devida firmeza, ela perdia o equilíbrio e caía ao chão... E eles tentavam de novo, e infelizmente, era a mesma decepção... Tentaram ensinar a ela a falar pelo menos papa... Mamã... Mas aquilo que se esperava, não era atendido!... Só aumentava aquele sentimento de que tudo estava contrário, que estava tudo dando errado!... Mas a vida haveria de fazer o que ela faz de melhor com todos nós, mais tarde iria surpreendê-los novamente.

            A maioria dos habitantes daquela região soube da notícia, então aquela família virou alvo de injúrias, zombarias e fofocas: pois diziam que eles eram amaldiçoados por ter uma filha com deficiência.
Numa noite esse bom homem bastante irritado e fadigado com toda essa perseguição repousou em seu leito, ali foi tomado por um sono profundo, e foi nessa ocasião que teve um sonho revelador. E nele se encontrou num lugar com um bando de crianças juntas, de várias etnias, e classes, bebês amputados vitimados das guerras, outros com suas deficiências, e todos brincavam numa real harmonia, sem preconceitos, sem racismo... Sem diferenças entre eles...
Depois disso, ele acordou mais fascinado pela vida, já que avistou ali o quanto ela é prazerosa entendendo que quando não botamos as barreiras do preconceito, do racismo, dá pra se viver cada vez melhor, desfrutando desse prazer imensurável.
Por causa disso, nasceu o motivo que mudou o primitivo quadro daquela família, que antes vivia se escondendo da alegria; agora eles podiam se aventurar por ela; que antes era pretexto de se envergonhar; agora é pretexto de se emocionar apreciando o ingênuo e puro sorriso da filha, que apesar de tudo parecer estar contra ela, sempre estava com sua pureza sorrindo alegremente.

            Os trios de aventureiros se aventuravam nas madrugadas, nos verdes montes distantes daqueles, que não sabe que o bom da vida é viver sem normas que vão contra a nossa felicidade, aquela moça sentia o verdadeiro carinho dos pais, ao divertir-se contando história, aquecendo-se ao redor da fogueira, e respirando o ar puro.
Nesses rituais que o coração pulsava de plena felicidade, não sabiam que também tinha mais alguém participando mesmo de longe, era o príncipe daquele reino acompanhando deslumbrado todas as noites pela janela do seu quarto.
Esse príncipe estava tão cativo com o ingênuo sorriso daquela donzela transmitindo o que sentia aos pais, que se apaixonou, pois aquele jeitinho tão meigo o encantou, e disse determinado pra si mesmo:

            - É essa... Vou pedir a sua mão, pra ser minha princesa... É quero que seja a mãe dos meus filhos.

             Logo, seguiu o que seu coração pedia, independente que o povo de seu pai e o rei aceitasse, ou não...
Seu pai na tentativa de cessar a solidão do príncipe deu um baile em seu castelo e convocou as donzelas, porém nenhuma que estava presente lhe agradava, por isso que foi em busca daquela que no seu coração já reinava, e regressou conduzindo na cadeira de rodas uma belíssima donzela; logo todos se abismaram, mais contemplando o quanto era forte aquele sentimento que sentiam um pelo outro, quebrando a barreira do preconceito, puseram-se a bailar emocionados, pois estava diante dos seus olhos à autêntica prova de que a deficiência não priva ninguém de ser feliz.
Anos mais tarde ela teve filhos e ficou conhecida em todos os reinos da Terra, como: A princesa de rodas, devido a sua luta, e seu lindo e triunfante testemunho, pois a pior deficiência é aquela que não permite que alguém possa aproveitar a vida dentro da sua limitação, é aquela que não permite que alguém sinta o quanto a vida é bela, e não no físico.

by Wagner Martins dos Santos



Atualização ou publicação dia: ‎24‎ de ‎julho de ‎2014


Outro texto relacionado a esse:

Nenhum comentário:

Postar um comentário