REFLEXO DO FIM DA
HISTÓRIA NOS RETROVISORES (Conto, distopia)
– Você
está vendo ali, Isaac! Dali vinham sons de músicas, de delírios, risadas,
gritos de anarquia; na maioria das esquinas das ruas os vizinhos faziam festas
e mais festas nos fins de semanas, nos feriados, até em datas voltadas ao luto,
a reflexões, quase tudo viam chance de fazer festividades, enfim… Já passou um
longo tempo, mas chega ainda aqui o rastro de pista da razão do desastre: a insuportável
e repugnante mistura de cheiros de cachaça, drogas, sangue, pólvora, odor
predominante de sêmens que o sol quente e o vento fazem sair dentre os
escombros!
–
Sim, meu pai, eu não entendo: se viviam comemorando, como chegou a esse fim?
– O primeiro passo que
essa sociedade deu em direção ao abismo foi aos poucos esquecer para quê que se
serve a moral, a ética, assim foi abalando os pilares do respeito, do senso do
que é certo ou errado… Devagar a imoralidade entrou no cotidiano através das
piadas pornográficas, vídeos simulando tudo o que são antinaturais como se isso
fossem naturalmente normais; a vida daqueles cidadãos foi ficando tão vazia de
sentido, de propósitos que logo o que era inaceitável virou uma realidade tão
banal!
– Mas ninguém tentou evitar
esse suicídio em massa!?
– Por mais absurdo que
seja, meu filho: até os intelectuais, “os sábios”, os artistas, a maioria dos
influenciadores daquela geração apoiaram essa loucura!
Olha lá na frente o meu amigo; apresse os passos,
quero saber como estão as vendas dele!
Olá meu caro, como estão sendo as suas vendas?!
PARTE 2
– Olá Abraão! É
maravilhoso ver os dois depois de um bom tempo; inclusive, parece que durante
isso o seu filho decidiu crescer?!
–
Sim… Como está o negócio?
– Indo bem, obrigado
por perguntar!
– Eu estava falando
para Isaac sobre aquilo que era um paraíso e hoje está em ruínas… me ajude,
você vendia tanto para aquela gente!
– Fazia brilhar os
olhos a prosperidade daquela cidade, contudo, tinha um modo de viver
abominável!
Adoravam a deusa sodomita: toda imoralidade e
depravação sexual; quando começaram a servi-la, pais faziam as suas crianças
adorarem ela através das coreografias sensuais, incentivavam quando simulavam
posições sexuais;
O espírito da sensualidade achou espaço amplo nas
mulheres carentes por demostrarem o seu valor, os estilistas da moda lançaram
modelos atrás de outros que deixavam a mostra cada vez mais os corpos,
eliminando a importância da inteligência, da personalidade de cada uma, até nos
templos religiosos, voltados aos valores espirituais, aconteciam desfiles desses
tipos de roupas!
Casamentos entre pessoas não tinham nenhum
significado, afinal de contas, aconteciam muitos adultérios, e o troco de serem
traídos era trair também, não duravam, se relacionavam de outras formas: por
dias, horas, enquanto sentiam alguma paixão; o amor foi esquecido pela busca
insana por prazeres momentâneos, amavam excessivamente os objetos, os aninais,
e assim se casavam e se satisfaziam sexualmente com tais; o compromisso foi
substituído pelo extremo e mortal egoísmo; as festas geralmente terminavam em
orgias… tudo que praticavam foi em adoração à deusa deles; pouco a pouco a
pedofilia virou corriqueira; os líderes cederam à pressão do novo modo de vida
social, dando permissão de pais abusarem dos filhos e vice-versa, tendo isso
como ritual familiar!
Eu vi meus caros, de longe nos lugares com menos
movimentação, alguns montes tendo vários urubus sobrevoando, vinham uns sons
como filhotes de gatos chorando, então agucei a atenção e pude contemplar o que
causa a falta de amor de mãe no coração de tantas jovens, o que causa o prazer
sem compromisso e tantos outros motivos parecidos: o monte era de cabecinhas,
corpinhos, perninhas, bracinhos dos abortos e recém-nascidos!
–
Nossa, pai, que povo terrível era esse! …
–
E tem mais, vamos pegar esse ônibus, creio que esse velho motorista rodou por
dentro dela antes…
PARTE 3
–
Boa tarde, velho motor!
–
Boa!
Quero saber do senhor se já rodasse nas linhas que
entrava na cidade que foi consumida pelo fogo?
–
Rodei naquele pandemônio, naquele altar da devassidão: os governantes e ricos
eram corruptos danificando os serviços públicos para seus próprios luxos e
colecionar corpos de pessoas (as quais viraram posses dos donos das empresas de
cartões de crédito porque tinham dívidas acima do limite, chegaram a isso em
busca da satisfação vindo das compras impulsionadas pela vaidade, pela inveja)
em seus armários dos prazeres, mesmo sabendo que isso custava em muitos terem
que comer as sobras nos lixos; nas vitrines das lojas nas avenidas, invés de
roupas ou algum objeto, eram expostos todo tipo de corpos nus e de preços de
mulheres, homens, e crianças desde um ano de idade, (cada pessoa comprada vinha
com duas injeções: uma que paralisava os músculos do corpo durante três dias e
a outra, no mesmo tempo, nutria-os, também transformava urinas e fezes em gazes
aromáticos, adequando eles para serem usados várias vezes justamente para fins
prometidos: dar prazer…!) Assim lia nos anúncios dessas lojas!
Teve um tempo que o lançamento do modelo de roupas
foi uma espécie de homenagem à deusa sodomita, horrenda a visão de suas ruas: as
roupas cobriam o corpo todo, menos os seios, as nádegas, as vaginas, os pênis, pois
eram símbolos de sua divindade, e assim facilitava o sexo grupal, o sexo em
público, bastava se atiçarem que para eles eram os momentos de fazer sexo seja
com quem ou o que for, a palavra estupro foi extinta, nessa forma que prestavam
cultos a ela onde estivesse!
Já perdi as contas de quantas vezes queimei as
paradas para eu não ser violentado, meus companheiros!
PARTE 3 continuação
Na minha última viagem
por lá, tive que passar entre os foliões, era um evento que prolongava por dias,
contudo, vi pelos retrovisores do ônibus o evidente fim daquela história: o
povo praticava toda forma de criminalidade; todos ficando nus, indo atrás de
trios elétricos ao som de músicas com letras extremamente sujas no volume
máximo, levando estátuas de órgãos genitais,
praticando sexo grupal, com animais, objetos e até crianças deixando o rastro
de sangue, de prantos, mortos pisoteados; usavam uma nova droga chamada
depravaçãototal: transformando a multidão em verdadeiras bestas-feras,
irracionais, a depravaçãototal causava tremenda excitação nas pessoas, as quais
começavam a fazer sexo com tanta violência que beijavam uns aos outros depois
estavam literalmente mordendo de arrancar pedaços de seios, nádegas, de pênis
de testículos, lábios…; de tanto cruzarem como cachorros no cio uns com outros,
enfiavam objetos neles como paus pegando fogo e ficavam em mais intenso êxtase
que davam assombrosas risadas quando as chamas com sua temperatura os
consumiam, e desse jeito queimaram-se e também a cidade toda!
- Wagner Martins
Quarta-feira, 6 de janeiro de 2021
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