A SENTENÇA DO POETA.
Dentro da prisão,
Com certa inocência, pego o giz da imaginação,
Nas paredes, faço rabiscos e mais rabiscos...
Círculos e mais círculos...
E fico encantado com a contemplação:
o sol e seus raios, emanando o seu clarão,
Adentrando numa janela feita de traços nas
rochas,
E os ventos trazem aromas de rosas
lá do horizonte, lá das colinas, montanhas...
Capaz de clarear, alegrar, e de me fazer esquecer
Esse vazio, sombrio lugar que me oprimia,
e ao paraíso das fantasias, me elevar!...
Dentro da prisão,
Me sinto como uma alteza agrilhoada,
Esquadrada por um esquadrão,
De uma que é a companheira
Mais fiel do que o contentamento, a solidão,
e por sua presença ela não carece de gratidão:
Ficamos de prosa,
sem darmos sermões...
a rir, gozar,
a cantar, e relembrar...
Às vezes a lhe maravilhar,
outras vezes a lhe abismar,
Com minhas façanhas, vivências...
e a nós essas enxeridas lembranças,
que em algumas horas são muito bem-vindas,
vêm também da fiel comungar!...
Dentro da prisão,
O sossegado silêncio
Vem a me sossegar,
Com seu jeito manso... manso!...
Mansamente aos ouvidos cochichar,
A seduzir o meu espírito, a me inspirar:
- O escrever é a sua sina...
- O escrever lhe fascina...
Contudo é nessas horas
que almejo ter um coração de madeira:
afim de poupar-me da carência
que me castiga sem misericórdia,
ela sutilmente me cerca:
Zombar-me ao alertar
Que preciso de calor humano,
Emanado do corpo de uma faceira...
Que necessito de apreciar
As encantadoras paisagens enfeitadas
com sorriso feminino,
Á radiar minh’alma!...
Dentro da prisão,
Agora vivo sem pressas,
Procuro não procurar.
Desejo não desejar
Mais nada
que não posso alcançar...
mais nada
que não seja benéfico ao longo prazo
para minha vida.
É daqui de dentro
no templo dos meus sentimentos,
é que minha poesia brada,
e a muitos arrebata, e deixa maravilhados,
como se descobrissem o meu valioso tesouro!
No sereno, ela como vira-lata, ladra:
de forma tão romântica,
Á remessar no ar serenatas...
ao tentar achar minh’amada:
feito as lindas histórias de amor que nos encanta:
já que eu sou um desses pirados pelas belas palavras,
já que ainda com meus olhos caço estrelas...
já que ainda creio nos fins felizes de contos
de fadas!
- Wagner Martins
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
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